ESTUDO CIENTÍFICO APONTA QUE PIRARUCU SELVAGEM DA AMAZÔNIA TEM ALIMENTAÇÃO ORGÂNICA

A bióloga Cristina Jacobi em trabalho de campo na região do Médio Juruá, na Amazônia. Foto Arquivo Pessoal

Investigação analisou o estômago dos peixes manejados na região do Médio Juruá, entre 2018 e 2019 – 23.09.2020 – Por Renata Monti

Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, desenvolvido pela bióloga Cristina Jacobi, com o apoio do Instituto Juruá, apontou que a alimentação do pirarucu selvagem da Amazônia é composta por diversas espécies. A investigação intitulada “Alimentação de Arapaima sp.: integrando conteúdo estomacal e conhecimento ecológico local” analisou o estômago dos peixes manejados na região do Médio Juruá, entre 2018 e 2019, e contou com o conhecimento de comunidades locais. Os pesquisadores observaram que o pirarucu se alimenta de vários peixes e alguns invertebrados.

“É uma espécie extremamente importante para todo aquele ecossistema. Além de ser o maior peixe de escamas de água doce do mundo, podendo chegar até 3 metros, é endêmico, ou seja, só vive na Bacia Amazônica. Em função dessa importância, me interessei pelos seus hábitos alimentares, pois não havia pesquisas sobre a dieta do pirarucu na região do médio rio Juruá. Essa é uma forma de entender como se comporta a espécie e contribuir para o manejo”, explica Cristina, responsável pela pesquisa.

Amostras de peixes e invertebrados encontradas nos estômagos dos pirarucus em pesquisa. Foto Arquivo Pessoal

O trabalho de campo aconteceu em duas etapas, em setembro de 2018 (período de seca) e Junho de 2019 (período de cheia), com o financiamento da National Geographic e o apoio de pesquisadores da Universidade Regional Amazônica e Universidade de Saskatchewan. Primeiro, foi feita a coleta dos estômagos dos pirarucus manejados, identificando o tamanho e o sexo de cada peixe. As amostras foram armazenadas no gelo e, posteriormente, analisadas. Entre as descobertas, estavam peixes e invertebrados, como camarão, além de pequenos pedaços de plantas. Uma fase de entrevistas com os pescadores de diferentes faixas etárias também auxiliou nos trabalhos.

“Tanto as análises de conteúdo estomacal quanto às entrevistas acordam entre si. Os indivíduos mais jovens se alimentam de uma maior proporção de invertebrados, como camarões, e os adultos preferem peixes de diferentes espécies e tamanhos. O material vegetal apareceu eventualmente, o que nos levou a concluir que o pirarucu é uma espécie carnívora”, esclareceu a pesquisadora.

Como explica o biólogo João Campos Silva, do Instituto Juruá, é importante conhecer a alimentação do pirarucu selvagem para compreender o impacto da atividade de manejo no ecossistema.

Processamento de pirarucu na região do Médio Juruá, Amazonas. Foto Asproc

“A compreensão dessas relações ecológicas, conhecida como teia alimentar, é fundamental para gente entender o impacto do manejo no ecossistema. A atividade de manejo afeta todas as espécies que vivem no ambiente. Algumas também se beneficiam da proteção e vigilância dos pescadores e aumentam suas populações. Por outro lado, outras espécies, como as presas do pirarucu, podem diminuir devido ao grande aumento do peixe. Além disso, conhecer a dieta do pirarucu é muito importante para gente entender o potencial de produção dessas áreas manejadas. As populações de pirarucu só podem ser recuperadas e manejadas sustentavelmente se o ambiente fornecer condições ideais para isso, o que inclui a disponibilidade de presas”, explica João.

Como ainda destaca o pesquisador, o pirarucu pode ser considerado um alimento orgânico uma vez que não há nenhum componente químico durante sua produção.

“Mas ele ainda não possui um selo orgânico, pois isso demanda diversos requerimentos burocráticos. Mas estamos correndo atrás dessas certificações”, declara.