Abate responsável do pirarucu é realizado nas terras Paumari, no Rio Purus

Abate responsável é implementado nas comunidades do Coletivo Pirarucu com apoio da Opan | Foto: Adriano Gambarini

Texto: Renata Monty

Um estudo realizado pelo pesquisador e médico veterinário Leonardo de La Vega investigou práticas de abate responsável (conhecido também como abate humanitário) para o pirarucu selvagem e sustentável do Gosto da Amazônia, nas terras indígenas Paumari, no Rio Purus. O objetivo é reduzir a dor e o sofrimento dos animais durante o abate, a fim de minimizar o stress dos peixes.

“A questão ética está em primeiro lugar. Quando se executa o abate correto a gente reduz o risco de dor e sofrimento dos animais. Um segundo ponto interessante é que o produto acaba tendo uma qualidade superior, em termos de sabor, de aparência e de prazo de validade”, esclarece Leonardo de La Vega, com duas décadas de estudos e práticas sobre o tema.

De acordo com o pesquisador, a técnica precisa ser disseminada entre as comunidades do Coletivo do Pirarucu, a fim de agregar ainda mais valor ao produto selvagem. Com isso, treinamentos são necessários tanto na padronização de procedimentos quanto na produção de instrumentos de pesca.

“No momento em que o animal é retirado da água, ele tem que ser tratado de forma humanitária, sem agressão, sem nenhum golpe que possa machucá-lo ou produzir dor e sofrimento. Quando aplicado no ponto certo na cabeça do animal, a técnica produz uma imediata inconsciência, profunda e duradoura, para que no momento o animal não sinta a dor do corte e não perceba, não tenha consciência desse momento”, define o veterinário.

Comunidades Paumari são orientadas sobre a padronização de técnicas para o abate do pirarucu selvagem sem sofrimento | Foto: Adriano Gambarini

De acordo com o biólogo Felipe Rossoni, da Operação Amazônia Nativa (Opan), instituição que apoia as atividades do Coletivo Pirarucu, essa análise vem de encontro com uma série de vias elencadas para a qualificação dos processos do manejo do pirarucu, em relação à parte técnica, visando a melhoria da cadeia produtiva como um todo.

“Essa parte operacional das capturas, do abate, do transporte, do resfriamento, todas essas questões pontuais, no contexto operacional da pesca, são importantes no conjunto. E a qualificação desses procedimentos se dá caso a caso nos ambientes de pesca e nas condições de infraestrutura que cada grupo de manejo tem. Precisamos considerar os ambientes para padronizar procedimentos e equipamentos”, esclareceu Felipe.

Pelo fato de o pirarucu Gosto da Amazônia estar em ambientes selvagens, como rios e lagos da Amazônia, há dificuldades a serem superadas devido a imprevisibilidade de fatores climáticos, por exemplo. Como coloca Leonardo, no Rio Purus, há animais de diversos tamanhos e as condições do rio interferem no balançar das canoas, por exemplo.

A padronização de procedimentos tem sido implementada nas comunidades do Médio Purus | Foto: Adriano Gambarini

“É desafiador fazer o abate no ambiente selvagem e precisamos superar alguns percalços. Mas desenvolvemos diversos padrões para os procedimentos e produzimos instrumentos para ajudar nisso, com a ajuda da Opan”, avaliou Leonardo.

Como pontuou Felipe, os estudos têm sido feitos para superar essas dificuldades, com a ajuda de especialistas no assunto. A partir do entendimento de cada etapa, é possível criar meios de padronização que irão melhorar o produto final – o pirarucu que vai para a mesa do consumidor.

“É um super desafio padronizar procedimentos em locais como a Floresta, pois as condições são diferentes em cada comunidade. Avançamos já nesta questão do abate, com a análise técnica, trazendo melhorias a partir dessas realidades. O manejo traz uma série de características de responsabilidades associadas a ele, em diferentes níveis: a responsabilidade sobre a sustentabilidade dos recursos, a estrutura social, a atividade coletiva, a comercialização via Gosto da Amazônia. O abate responsável vem como mais um pilar dessas discussões atuais, pelo não sofrimento dos animais para consumo humano”, explica Felipe.

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