Coletivo do Pirarucu participa de Seminário sobre as Cadeias Produtivas no Médio Juruá

O Seminário de Cadeias Produtitivas reuniu instituições importantes para o desenvolvimento sustentável da Floresta

Integrantes do Coletivo do Pirarucu, ASPROC, Memorial Chico Mendes e Instituto Juruá participaram do Seminário das Cadeias Produtivas do Médio Juruá, realizado de 13 a 15 de Junho, na Base Bauana, localizada na RDS Uacari, município de Carauari, no Amazonas. Organizado pela ASPROC, o evento reuniu comunitários/as agroextrativistas, lideranças de organizações locais, pesquisadores, representantes de instituições governamentais e não-governamentais e assessoria técnica. Foram três dias de debates, trocas de experiências e tomada de decisão sobre as cadeias do pirarucu de manejo, açaí e borracha.

“O papel do seminário é manter as comunidades e comunitários unidos para se capacitarem e debaterem sobre as próximas safras do pirarucu manejado, da borracha e do açaí sustentáveis. O evento foi muito produtivo para nós, como diretoria da ASPROC, esclarecermos as dúvidas dos manejadores e manejadoras e buscarmos soluções conjuntas para os desafios e para planejarmos as próximas atividades”, destacou Ecivaldo Dias Ferreira, presidente da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC).

O evento reuniu comunitários/as agroextrativistas, lideranças de organizações locais, pesquisadores, representantes de instituições governamentais e não-governamentais e assessoria técnica

Uma das pautas mais discutidas durante o evento foi a Certificação Orgânica do pirarucu de manejo. O Coletivo do Pirarucu tem contribuído com sugestões de ajustes necessários para a revisão da Instrução Normativa nº17, para que o pirarucu de manejo sustentável se torne um produto apto à receber a certificação orgânica. Esse processo requer a aprovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para entrar em vigor. Desde já as organizações de base e comunidades manejadoras têm se preparado com capacitações e debates sobre o tema para se organizarem para esse momento tão esperado.

Outra questão debatida com grande entusiasmo no encontro foi a exportação do pirarucu de manejo sustentável, sendo apontadas as necessidades legais e práticas para viabilizar esse projeto a médio e longo prazo.

“As expectativas são muito boas. Prevemos um aumento da produção do arranjo do coletivo em pelo menos 25% em relação a safra de 2021; a obtenção do SISBI – Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal na indústria própria da ASPROC. Isso possibilitaria que sua produção fosse comercializada em qualquer parte do Brasil. E, ainda, mesmo que de forma tímida testar a exportação do pirarucu de manejo, na busca remunerar de forma mais justa os extrativistas manejadores”, aponta Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes.

Uma das pautas mais discutidas durante o evento foi a Certificação Orgânica do pirarucu de manejo do Gosto da Amazônia | Foto Divulgação

Durante o evento foram reavaliados os encaminhamentos da última reunião de Planejamento e Avaliação do Manejo dos Lagos, através de discussões coletivas sobre os desafios, os acertos e os aprendizados da última temporada. Em conjunto, foi definida a necessidade de uma agenda de visitas da equipe técnica da ASPROC para apoiar a elaboração e/ou revisão dos regimentos internos relacionados à pesca manejada nas comunidades do Médio Juruá para o início de 2023.

Ainda foram discutidos os pontos da Produção Sustentável da Borracha no Médio Juruá, os seus impactos e a sua importância. Os desafios e oportunidades dessa cadeia também foram levantados, sempre considerando as questões das boas práticas para a extração da borracha, o histórico de produção e a participação comunitária do Médio Juruá.

O protagonismo de mulheres e jovens foi destacado no Seminário

A avaliação do manejo dos lagos realizado em 2021 também ocorreu, com o debate girando em torno das estratégias de vigilância e monitoramento dos lagos pelas comunidades. E com a apresentação dos dados gerais do manejo, que incluem a quantidade de pessoas e as comunidades que participaram, as cotas liberadas e o volume capturado na safra passada.

Os dados de comercialização do pescado do arranjo comercial da ASPROC também foram apresentados e debatidos coletivamente, com destaque às ações que a diretoria da associação que cada vez mais tem investido no desenvolvimento de diferentes estratégias para agregar valor ao produto e alcançar novos mercados consumidores. Um grande avanço relacionado a isso, foi o início das operações de processamento do pirarucu e outras espécies na Unidade de Beneficiamento de Pescado da ASPROC. E esse encontro foi uma oportunidade de repassar para as comunidades manejadoras os desafios e oportunidades do primeiro ano de atividade da unidade. Além disso, esses eventos são oportunidades dos técnicos reforçarem as questões das Boas Práticas de Manipulação do Pescado, a fim de garantir a melhor qualidade do nosso pirarucu.

Além do investimento na qualidade do produto, a ASPROC tem capacitado os jovens para se empoderar de todos os elos da cadeia do pirarucu. Neste sentido, houve um esforço da associação de tornar possível a participação de dois estagiários jovens comunitários no Curso de Multiplicadores de manejo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Durante o evento, eles puderam compartilhar essa experiência com os demais participantes.

Foram ainda discutidas questões da cadeia do açaí, com a apresentação de dados da comercialização da última safra e possibilidades futuras dessa cadeia.

As instituições parceiras presentes puderam apresentar propostas e as novas oportunidades para as cadeias produtivas do território Médio Juruá. E ainda foi realizado o Planejamento do Manejo deste ano de 2022, com detalhamento das atividades e divisão das responsabilidades dos atores envolvidos.

“Esse evento mostra o amadurecimento da região para o uso desses recursos, feito por pessoas do território e por instituições parceiras que atuam ali. O grande avanço é ver o protagonismo das comunidades locais nas atividades sustentáveis. Depois de muito trabalho, percebemos que os indígenas e ribeirinhos estão à frente de todos os processos, desde o planejamento à comercialização desses produtos. Esse tipo de modelo comunitário é, certamente, o futuro para a conservação da Amazônia”, destaca Eduardo Muhlen, coordenador de Práticas em Conservação e pesquisador do Instituto Juruá.