O Gosto da Amazônia, marca coletiva que promove o pirarucu selvagem e sustentável, completa 5 anos em 2024. Para celebrar a data, um jantar comemorativo foi realizado no dia 22 de maio, em parceria com o restaurante Selvagem, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O menu todo baseado no peixe foi assinado pelos chefs Filipe Leite e Priscila Deus e contou com a participação de representantes de duas comunidades ribeirinhas, das regiões do Médio Juruá e do Médio Solimões, além de chefs, jornalistas e parceiros da marca.
Desde a sua criação, em 2019, a marca tem como objetivo ampliar a visibilidade e a venda do pirarucu selvagem e manejado em mais de 200 comunidades indígenas e ribeirinhas do Coletivo Pirarucu. Como consequência, os recursos obtidos com um comércio justo trazem melhorias na qualidade de vida dessas populações e as mantém no território.
Como relembrou Sérgio Abdon, responsável pela comunicação e marketing da marca comunitária, quando em 2022, a Expedição Médio Juruá, levou chefs de diferentes regiões brasileiras a isolada São Raimundo, no município de Carauari, a energia elétrica era disponibilizada só duas horas por dia, vinda de um gerador a diesel. Agora, a comunidade dispõe de energia elétrica o dia todo. Ela passou a ser obtida por meio de painéis solares fotovoltaicos, que foram custeados com a venda do pirarucu.
“É esse tipo de benefício que o Gosto da Amazônia traz para as comunidades da região. Estamos aqui reunidos para agradecer aos mais de 250 restaurantes no Brasil que atualmente servem o nosso produto e também para apresentar um pouco do manejo do pirarucu para chefs de cozinha e outros profissionais que desejem contribuir com a conservação da floresta Amazônica, reconhecendo o papel fundamental desta atividade realizada por povos indígenas e comunidades ribeirinhas”, declarou Abdon, que também é diretor-executivo do SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro.
Conheça os restaurantes que servem o pirarucu Gosto da Amazônia.
Comunidades e parceiros falam sobre a marca
Presente no jantar, Francisco Alessandro é um dos responsáveis pelo manejo do pescado na região do Médio Juruá, município de Carauari (AM).
“Para nós, a cadeia de produção do pirarucu é uma das mais importantes tanto do ponto de vista social quanto do econômico e do ambiental”, afirmou. “Envolve todo mundo, dos jovens às mulheres, e nos permite gerar renda sem danificar o meio ambiente. E essa renda nos permitiu realizar um dos maiores sonhos da comunidade, a conquista da energia solar”.
Uma das responsáveis pelo manejo do pescado na Reserva Mamirauá, Lilian Gonçalves, discursou sobre a região situada no Médio Solimões.
“Nos organizamos para garantir um futuro melhor para nós e para a natureza e a participação das mulheres nesse processo é fundamental”, disse ela. “É uma satisfação imensa estar aqui e ver o nosso trabalho sendo reconhecido e valorizado”.
Coordenador para assuntos regionais do braço brasileiro da USAID, Marcos Bauch participou da expedição de 2022 para a Reserva Extrativista do Médio Juruá.
“Foi uma viagem longa e cansativa, mas que mudou, tenho certeza, a vida de todos os participantes”, declarou no jantar no restaurante Selvagem. “Serei eternamente grato por essa experiência”, declarou Bauch, que ainda ressaltou sobre a importância de acordos entre Brasil e USAID:
“O acordo bilateral entre a USAID e o governo brasileiro incentiva o desenvolvimento econômico sustentável, a proteção à biodiversidade e o apoio à governança e à gestão eficaz das áreas protegidas do país”. No ano passado, o órgão contribuiu com a melhoria de gestão de 170 áreas protegidas na Amazônia, além de apoiar a conservação, a restauração e o manejo de mais de 48 milhões de hectares. “O fortalecimento de cadeias de valor sustentáveis é outro foco do nosso trabalho”, acrescentou. “É algo fundamental para mostrar o valor econômico da floresta e proporcionar um futuro viável para as famílias que dela dependem”.
Convidado a discursar em seguida, Pedro Constantino, coordenador do Serviço Florestal dos Estados Unidos, lembrou que o consumo do pirarucu selvagem vendido Brasil afora pela Gosto da Amazônia contribui com a preservação da maior floresta do mundo.
“Pode parecer contraditório, mas a questão é que o manejo desse pescado na região não é feito de maneira desordenada”, afirmou. “Ele é feito com extremo cuidado e com planejamento anual. As comunidades envolvidas contam a quantidade de pirarucu que há nos lagos, definem onde eles poderão ser pescados e tiram das águas só uma pequena porcentagem. Isso para permitir a reprodução no ano seguinte e em maior quantidade. E ainda há o período de defeso”.
Origem da marca
A marca é uma iniciativa de diversas entidades, como a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), o Instituto Juruá, a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e o SindRio, entre outras.
Projeto de cooperação internacional entre os governos do Estados Unidos e do Brasil, e estratégia de fortalecimento da cadeia produtiva do pirarucu selvagem recebe apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e é coordenado tecnicamente pelo Serviço Florestal Norte-americano e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A marca Gosto da Amazônia, que deu origem a um festival gastronômico com edições no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, entre outros estados, paga aos manejadores cerca de 60% a mais pelo peixe, em média, do que os frigoríficos da região amazônica. Nos últimos 10 anos, graças aos esforços do Coletivo do Pirarucu, a quantidade da variedade selvagem aumentou mais de 600%. No ano passado, 100 toneladas foram vendidas no país.
Pirarucu e restaurantes parceiros
O menu do jantar de aniversário mostrou toda a versatilidade do pescado, considerado o maior peixe de escamas de água doce – ele chega a três metros e 200 quilos. Elaborado pelo chef da casa, Filipe Leite, em parceria com a assadora Priscila Deus, que participou da expedição de 2022, o cardápio começou com pão de fermentação natural guarnecido de pasta de pirarucu e pimenta de cheiro.
O ceviche feito com o pescado, incrementado com tucupi e jambu, chegou em seguida. Depois foi a vez do croquete de pirarucu com maionese de pequi e ervas frescas. O prato principal? A versão do mesmo peixe na brasa. Veio acompanhada de purê de mandioca, banana da terra, molho de tucupi com mel e mix de ervas. De sobremesa, torta de queijo com caramelo de missô, cumaru e geleia de açaí.
Representantes de alguns dos 250 restaurantes que são clientes da Gosto da Amazônia, a exemplo da rede NB Steak, marcaram presença no jantar de cinco anos da marca. O Banzeiro, com unidades em Manaus e São Paulo, foi representado pelo chef Felipe Schaedler. Ele serve, por exemplo, o pescado na brasa gratinado com queijo meia cura e escamas de banana – é o prato mais vendido.
“Vou incluir no cardápio, agora, o pirarucu de casaca”, ele revelou durante o jantar, referindo-se a um prato clássico. Ao ouvi-lo falar, Filipe Leite anunciou que, em breve, o Selvagem também vai ser cliente da Gosto da Amazônia.
Saiba mais sobre o manejo sustentável do pirarucu Gosto da Amazônia.