Jovens participam da rastreabilidade do pirarucu selvagem no Médio Juruá

Jovens selecionados para a rastreabilidade durante o manejo do pirarucu ao lado da analista socioambiental Jéssica Souza | Foto: Acervo ASPROC

Publicado em: 23.11.2023. Por: Renata Monty, com colaboração de Jéssica Souza

Durante a temporada de pesca do pirarucu selvagem e sustentável, iniciada em setembro de 2023, jovens das comunidades ribeirinhas e indígenas da região do Médio Juruá foram escalados como monitores de rastreabilidade do peixe pela ASPROC – Associação de Produtores Rurais de Carauari. Por meio de um aplicativo desenvolvido especificamente para a cadeia do pirarucu, o peixe é identificado e rastreado desde a pesca, com um lacre do Ibama, passando pelas unidades de beneficiamento até os pontos de venda. Além disso, o sistema permite a inserção de dados da etapa da contagem, gerando um banco de dados completo para acompanhamento e melhora contínua da atividade.

Como explica Jéssica Souza, uma das coordenadoras da rastreabilidade e dos monitores, o objetivo do projeto é empoderar jovens entre 17 e 21 anos e incentivá-los a atuar na cadeia produtiva do pirarucu. A seleção aconteceu em abril deste ano e contou com 38 inscritos, oferecendo remuneração. Os candidatos passaram por prova temática e entrevista com diretores da ASPROC e colaboradores da Coordenação de Produção. Destes, seis foram selecionados para o trabalho durante a temporada.

“É muito interessante aproximar os jovens da cadeia do pirarucu por meio da tecnologia. A gente acaba abrindo novas oportunidades dentro da cadeia para que esses jovens se insiram, se interessem e se dediquem a participar. Usando a aptidão da juventude para a facilidade de lidar com as tecnologias e novidades”, defende Jéssica.

O jovem Jea
O jovem Jean Silva, da comunidade de Tabuleiro, é um dos que participam do estágio. Foto: Acervo Asproc

Morador da comunidade de Tabuleiro, na RDS Uacari, no Território o Médio Juruá, o jovem Jean Silva se interessou pela vaga e foi um dos selecionados. Ele conta que participou desde o início do processo de contagem dos peixes, nos rios e lagos, até chegar a captura, quando é colocado um lacre do Ibama para identificar o animal e suas características, como peso, sexo, e comprimento e horário de abate e de gelo, são registrados. Em seguida, vem a etapa de evisceração (retirada das vísceras), e o pescado segue para câmaras frigoríficas até o município de Carauari – onde ao ser beneficiado e embalado, o produto recebe um QR Code que direciona o consumidor a uma página informativa sobre o manejo e a origem. A capacitação profissional e a remuneração são destacados pelo jovem como os grandes chamarizes do projeto.

“Isso tudo para mim está sendo uma experiência incrível, é muito gratificante saber que estou ajudando de alguma forma a preservar essa espécie que é tão importante para gente, principalmente para os manejadores que são os maiores pioneiros disso tudo. É muito lindo ver a evolução das espécies nativas, e isso só nos inspira cada vez mais a lutar por nossos rios e lagos!!”, diz Jean.

Jovens com o coordenador de produção Givanildo Freitas e o técnico de pesca, José Gomes, da ASPROC. Foto: Acervo Asproc

Moradora da Comunidade Xibauazinho, também na RDS Uacari, a ribeirinha Vitória Lima, de 18 anos, conta que as oportunidades de trabalho são escassas na região e, por esse motivo, a vaga lhe despertou interesse. Com o estágio, teve a chance de aprender mais sobre o manejo e conhecer de perto outras comunidades, como Ressaca, Bacaba, Fortuna/Roque e Lago Serrado.

“Enxerguei essa vaga como uma boa oportunidade de trabalhar e adquirir experiências e aprendizado também. Gostei muito de todo o trabalho e espero poder contribuir ainda mais. Se fosse atuar no manejo, escolheria fazer parte da evisceração do peixe, pois já trabalhei com isso uma vez na minha comunidade e achei legal”, planeja Vitória.

Manejadores reunidos com os monitores de rastreabilidade. Foto: Acervo Asproc

A coordenadora Jéssica Souza ainda vislumbra ampliar as possibilidades no setor para a juventude ribeirinha e indígena do Médio Juruá.

“Nossa expectativa é que sempre haja oportunidades como essa para inserir a juventude nas cadeias produtivas como um todo. É importante que busquemos espaços e alternativas para que eles aprendam, se capacitem e experienciem a realidade das atividades. Essa oportunidade abre portas para eles dentro da associação para projetos futuros e outros cargos de técnicos, possibilitando também que eles se interessem em fazer um curso técnico, uma faculdade”, ressalta Jéssica.