O manejo do pirarucu selvagem, o surf e a fotógrafa Ana Catarina

Ana Catarina mostra o drone para crianças ribeirinhas na Amazônia. Foto Ana Catarina

Seja nos rios caudalosos da Amazônia ou nas ondas das Ilhas Maldivas, a fotógrafa Ana Catarina reúne um acervo impressionante de imagens aquáticas. Há duas temporadas fotografando o manejo sustentável do pirarucu selvagem, ela retrata não só o trabalho intenso dos pescadores de sol a sol, mas também o cotidiano das comunidades indígenas e ribeirinhas, como São Raimundo e Lago Serrado. A fotógrafa gosta de conversar com os locais, interagir com grupos distintos, antes mesmo de fazer seus cliques. E diz ter tido uma experiência pessoal transformadora ao fotografar na Floresta.

Sua história com as câmeras começou ainda no pré-vestibular, quando decidiu fazer a Faculdade de Jornalismo para estudar fotografia. Em 2013, a universitária curiosa encontrou um workshop de imagens de surfe e mergulhou de cabeça.

“Minha relação com a fotografia vem da minha vontade de contar histórias. Na época não tinha muita mulher fazendo isso e me apaixonei. Combinar mar, fotografia e esporte numa mesma atividade me encantou. Hoje em dia me dedico integralmente à fotografia e sou completamente realizada com ela”, declara Ana.

Ana Catarina durante a temporada de manejo do pirarucu. Foto acervo pessoal

Com o currículo repleto de imagens da Amazônia e de mulheres surfando ao redor do mundo, como Maya Gabeira e Silvana Lima, Ana nem sempre foi aventureira como na vida atual. Ela deixou uma carreira estável de funcionária pública para se dedicar integralmente à paixão e à profissão de fotógrafa. No passaporte, tem carimbos por paraísos como Polinésia Francesa, Ilhas Maldivas, Austrália, Nazaré (Portugal), Indonésia, México…

Sua primeira vez na Amazônia foi em 2019, quando fotografou o manejo sustentável do pirarucu selvagem em Terras Paumari, no Médio Purus. O estilo de vida simples das comunidades indígenas e ribeirinhas e todo o trabalho coletivo fez com que ela refletisse sobre os seus hábitos de vida.

“A Amazônia e a pesca do pirarucu tem toda a sua magia na simplicidade. Essa vida simples e mais calma nos coloca para pensar sobre a correria das grandes cidades e como somos só mais uma peça nesse sistema de produção. Ver casas sem móveis, que de fato só servem para armazenar os nossos excessos, dormir em rede com mosquiteiro, comer apenas o que é necessário, certamente foi uma das experiências mais enriquecedoras que já tive”, acredita Ana.

Ana Catarina em estação de apoio ao manejo na Amazônia. Foto acervo pessoal

Sobre o manejo sustentável do pirarucu, a fotógrafa diz que se encantou com a forma de trabalho coletiva.

“Ver a comunidade engajada e unida para um manejo organizado e concluir sua meta é de brilhar os olhos! Ver o resultado de muito trabalho refletir na melhoria da qualidade de vida dessas comunidades é mais que merecido. Dá mais vontade ainda de consumir o peixe, que é delicioso por sinal”, elogia Ana.

O fato de ser mulher não a desencorajou de ir para a Amazônia, mesmo sabendo que haveria desafios. A fotógrafa relembra que não teve nenhum contratempo, mas que se viu inquieta com a sua realidade urbana.

“Nas duas vezes que fui à Amazônia para registrar o manejo, fiz uma imersão em mim mesma. E aí, quando me dei conta, percebi o quão urbana, consumista e preconceituosa eu sou, mesmo não achando isso nos dias normais. Quando a gente se vê numa situação de pessoas felizes vivendo com pouco, de forma calma, com três horas de energia apenas, sem eletrodomésticos para acelerar o processo de produção, é para se questionar sobre qual o verdadeiro sentido da vida, né?! Estamos aqui fazendo o quê?”, reflete.