Texto: Fabíola Abess | ASPROC – Publicado em: 07.02.2025
Dirigido por Adriano Gambarini, com apoio do Instituto Mamirauá, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e Governo Federal, o documentário “Orgânico” é um convite a conhecer como o manejo do pirarucu une tradição, ciência e respeito ao meio ambiente.
A produção leva o espectador a uma jornada pela Amazônia, destacando a produção sustentável do pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo. O filme mostra o trabalho de certificação orgânica realizado pelo Instituto Mamirauá, OPAN, órgãos governamentais com o envolvimento de diversas organizações de base como a ASPROC – Associação de Produtores Rurais de Carauari na liderança do arranjo comercial do pirarucu Gosto da Amazônia, que impulsiona práticas sustentáveis e valoriza as comunidades locais.
Pirarucu orgânico: da Amazônia para o mundo. O filme está disponível na íntegra no YouTube.
Entrevista com Adriano Gambarini, diretor do documentário
Você trabalha com documentação da pesca sustentável do pirarucu há bastante tempo. Como foi receber o convite para dirigir este filme?
Eu trabalho na documentação da pesca sustentável do pirarucu pelo Povo Indígena Paumari há mais de 10 anos, desde que eles se tornaram o primeiro povo indígena a fazer o manejo sustentável. Minha relação de trabalho com povos originários, principalmente amazônicos, já ultrapassa duas décadas. Só da Amazônia, já tenho 30 anos de trabalho sistemático, seja documentação científica ou socioambiental. Assim, o convite para eu dirigir e produzir este documentário só fortaleceu meu envolvimento com projetos que vislumbram a sustentabilidade e conservação dos biomas. Foi uma honra poder participar e fazer parte deste movimento tão bem organizado que é o Coletivo do Pirarucu.

Como você enxerga a relação dos povos tradicionais com a conservação dos biomas?
Eu enxergo a relação sustentável dos povos da floresta com os bens produtivos existentes nos biomas como o único e melhor caminho para a conservação, não só para a manutenção da fauna e flora, como das tradições e cultura local. Ninguém melhor do que estes povos para preservarem e conservarem a floresta. Meu trabalho como documentarista, seja na fotografia ou produção de vídeos, sempre foi pautado nestas relações equilibradas entre os povos e o meio ambiente.

Qual a importância da certificação orgânica do pirarucu manejado?
Eu faço parte de uma família que trabalha com produção orgânica há mais de 30 anos. Este conceito faz parte de uma crença minha. Assim, estabelecer uma certificação orgânica num produto manejado por povos tradicionais é um caminho mais do que essencial, é de extrema importância para dar o devido valor a este trabalho realizado por eles, e desta forma, fortalecer e dar ainda mais credibilidade ao trabalho destes povos.
O que você espera que o documentário desperte no público?
Eu espero que o público consumidor, principalmente do Sul e Sudeste do Brasil, dê o devido valor ao trabalho de conservação e sustentabilidade realizado pelos povos tradicionais do Norte e Nordeste. O conceito de produtos orgânicos já é mais estabelecido e conhecido por este público. Então, eu espero que este documentário seja uma ferramenta de uma conscientização ainda maior por toda a sociedade brasileira.

Ficha Técnica do Diretor
Geólogo de formação, o fotógrafo paulistano Adriano Gambarini trabalha há 30 anos na Floresta e há mais de uma década registra o manejo sustentável do pirarucu selvagem nas terras indígenas Paumari. Nas mais de 30 expedições que realizou, teve a oportunidade de observar o lado científico, arqueológico, histórico e indigenista da Amazônia brasileira.
Há mais de dez anos trabalha para a Operação Amazônia Nativa (OPAN), fotografando diversos povos indígenas, entre eles os Paumari, integrantes do Coletivo do Pirarucu de manejo sustentável. Durante a temporada de pesca, Gambarini acompanha de perto o trabalho dos indígenas e passa dia e noite com os pescadores.