NÚMERO DE PIRARUCUS É 55 VEZES MAIOR EM AMBIENTES COM VIGÍLIA, APONTA INSTITUTO JURUÁ

Manejo sustentável do pirarucu selvagem. Foto Adriano Gambarini | Opan

Em 11 anos, o manejo comunitário aumentou em 425% as populações de pirarucu – Por Renata Monty – 15.10.2020

Uma pesquisa do Instituto Juruá, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade de East Anglia, na Inglaterra, mostrou que os lagos do Rio Juruá, protegidos pelas comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia têm 55 vezes mais pirarucus do que os outros ambientes sem vigília. Em 11 anos, o manejo comunitário aumentou em 425% as populações de pirarucu selvagem na região. A investigação foi conduzida pelo biólogo João Campos Silva e analisou a importância deste trabalho coletivo e de longo prazo entre instituições, associações e moradores.

“Em nossas abordagens percebemos que o manejo do pirarucu é um grande exemplo de sucesso de manejo pesqueiro sustentável. Mas muito mais do que isso, essa atividade pode ser uma grande estratégia para impulsionar o desenvolvimento local na Amazônia, nos mostrando de forma concreta como alinhar a proteção da biodiversidade com a melhoria da qualidade de vida das populações locais”, explica o pesquisador.

Manejadores na região da RDS de Uacari, Amazonas | Foto: Adriano Gambarini | Opan

Ao longo do ano, as comunidades que participam do manejo sustentável são responsáveis por monitorar os rios e lagos, evitando a pesca predatória fora de época. Nos meses de Julho e Setembro, é feita a contagem dos peixes, que servirá de base para a autorização de pesca para o próximo ano, fornecida pelo IBAMA. A temporada de pesca tem início em setembro e obedece critérios como retirada de peixes acima de 1,5 comprimento. Além de ser uma atividade sustentável, Campos destaca os benefícios econômicos e sociais para as comunidades locais.

“Esses expressivos resultados ecológicos já seriam suficientes para consagrar o manejo comunitário como uma grande ferramenta de conservação. Mas muito mais do que isso, o manejo vem proporcionando uma substancial melhoria na qualidade de vida das comunidades rurais. Os lagos protegidos funcionam como uma poupança bancária que pode ser acessada anualmente. A renda oriunda do manejo beneficia os integrantes do manejo, mas também pode ser utilizada coletivamente em reformas de áreas comuns nas comunidades e até mesmo em recursos para o tratamento de pessoas com doenças graves nas grandes cidades”, explica Campos.

Pesca controlada beneficia o meio ambiente e as comunidades locais | Foto: Joseph Hawes

Morador da comunidade Xibauazinho, na região da RDS Acari, Francisco de Araújo, de 59 anos, conhecido como “Seu Preto”, recorda que antes do manejo, as comunidades locais não participavam ativamente da pesca.

“Antes do manejo do pirarucu, havia muitos grandes barcos de pesca comercial em nossos lagos. Não tínhamos o direito de cuidar desses lagos. Os pescadores comerciais praticavam a pesca predatória, onde os pescadores costumavam colher o máximo que podiam. Nesse contexto, nossos lagos foram severamente esgotados pela sobrepesca e o pirarucu era praticamente inexistente. Agora, após 11 anos de gestão sustentável, temos mais de 4.000 pirarucus”, comemora Araújo.

Alessandro, de 18 anos, se relembra do período de ameaça de extinção do peixe até a implementação do manejo sustentável.

“Quando era criança não havia quase nenhum peixe nos lagos. O trabalho inicial foi difícil, pois nem todo mundo acreditava que poderia dar certo. Ficamos cerca de 3 a 4 anos sem retirar o peixe, pensando no futuro, e tivemos resistência. Com as atividades de preservação, vimos a mudança rapidamente, os lagos e rios se encheram de pirarucus. O manejo trouxe muitos benefícios para a nossa comunidade. A gente preserva e a natureza nos dá a contrapartida gerando fonte de renda para todos”, afirma Alessandro.

As mulheres também relatam melhorias na qualidade de vida e geração de renda.

“Depois do estabelecimento da gestão do pirarucu, minha vida mudou muito, pois tive a oportunidade de participar dessa atividade, tendo minha própria renda. Além disso, passei a participar de diversas reuniões e tomadas de decisões, defendendo os direitos das comunidades rurais e das mulheres pescadoras”, relata Raimunda Pires de Araújo, de 35 anos, moradora de Xibauazinho.

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